Diretor do BNDES justificou compra de ações do Independência três meses antes de anúncio
O diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Julio Cesar Ramundo afirmou nesta terça-feira,15, na Câmara dos Deputados, que o pedido de recuperação judicial do Frigorífico Independência três meses depois de o banco federal pagar R$ 250 milhões por 21,8% em participações acionárias foi “inusitada”.
Segundo ele, a decisão pegou todo o mercado de surpresa. “A empresa tinha auditoria, tinha balanços publicados sem ressalva no ano de 2007 e foram esses os elementos que o BNDES utilizou para tomar a sua decisão de investimento”, disse Ramundo, que administra as áreas industrial, de capital empreendedor e mercado de capitais do banco.
O diretor lembrou que o frigorífico conseguiu outros R$ 300 milhões em linhas de crédito por bancos internacionais operando no Brasil, após o investimento da BNDESPar, subsidiária do banco para atuações acionárias. “Certamente nenhum agente bancário, financeiro, procederia a aprovação de um crédito dessa monta se tivesse conhecimento de problemas da magnitude que se apresentaram depois.”
Os esclarecimentos foram feitos durante audiência pública da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados. Nenhum dos dois autores do requerimento, deputados do DEM Onyx Lorenzoni (RS) e Ronaldo Caiado (GO), vieram para o debate. O deputado Lira Maia (DEM-PA) justificou a ausência pela dificuldade dos parlamentares em viajarem a Brasília.
Informações erradas
Para o deputado Reinhold Stephanes (PSD-PR), chama atenção a contabilidade que não exprimia com clareza a situação do frigorífico. “A instituição se baseou em informações erradas.” O parlamentar falou, porém, que o banco reconheceu o erro cometido e deve buscar novos meios para avaliar futuras aquisições.
Maia criticou a atitude do BNDES de priorizar a empresa em relação a outras de menor porte que não receberam recursos do banco. “Há uma facilitação a empresas que estão nas vésperas de pedir concordata para obter, com facilidade e em tão pouco tempo, recursos do BNDES. Houve um erro técnico de análise.”
Entenda o caso – Em novembro de 2008, o BNDES adquiriu, por R$ 250 milhões, participação no Frigorífico Independência, no Mato Grosso do Sul, correspondente a 21,8% da composição acionária da empresa. À época da operação, as dívidas do Independência com credores já chegavam a R$ 4 bilhões.
Em fevereiro de 2009, a empresa ingressou com pedido de recuperação judicial. A compra pelo BNDES previa outros R$ 200 milhões em investimentos, elevando a participação acionária do banco a 33%. A ação foi interrompida depois do anúncio de concordata.
Na tentativa de recuperar o dinheiro investido na empresa, o BNDES recorreu à Câmara Arbitral do Mercado de Capitais da Bovespa, tentando obrigar os controladores do Independência a fazer uma recompra das ações do frigorífico em poder do banco, mas foi derrotado na ação. O deputado Bohn Gass (PT-RS) afirmou que a decisão ainda é liminar e o BNDES tomou as ações necessárias para tentar reaver parte dos recursos.
Em janeiro de 2013, a JBS, dona do grupo Friboi e maior processadora de proteína animal do mundo, comprou os ativos do Frigorífico Independência. Em novembro de 2012, a maioria dos credores do frigorífico tinha aprovado a operação.