A fabricante de aerogeradores Wind Power, subsidiária da argentina Impsa no Brasil, teve sua falência decretada pela Justiça de Pernambuco. A decisão, tomada em primeira instância, atendeu a pedido do grupo Libra, de operações portuárias, ao qual a Wind Power deve R$ 10,6 milhões. A informação foi antecipada pelo ValorPro, serviço de notícias em tempo real do Valor, na sexta-feira.
Instalada em Pernambuco no complexo industrial de Suape desde 2008, a Wind Power tinha dívida total com bancos de R$ 2,5 bilhões ao fim de 2012. Desse montante, R$ 445 milhões venciam no prazo de 12 meses. No entanto, disponível em caixa, a companhia tinha apenas R$ 24 milhões, situação de aperto para pagamento de fornecedores.
Auditores independentes da Deloitte ressalvaram informações financeiras apresentadas pela Wind Power em 2012. Um total de R$ 650 milhões que empresa contabilizou no seu ativo circulante (realizável em até 12 meses) deveria ter sido colocado no seu ativo não circulante, disseram. O valor se refere a contratos com acionistas da empresa.
Em 2012, a Wind Power teve receita de R$ 916,8 milhões, queda de 14,4% em relação ao ano anterior. Na mesma comparação, a companhia apurou um prejuízo de R$ 126,7 milhões, revertendo um lucro de R$ 4 milhões.
O Valor não localizou o balanço da Wind Power de 2013, apenas o da controladora Impsa, comandada pela família Pescarmona. As demonstrações da Impsa vieram com quatro ressalvas dos auditores, duas por erro e duas por “limitação de escopo”.
Em uma das ressalvas, os auditores dizem que não conseguiram opinar sobre o balanço da subsidiária Wind Power em 2013 porque esta ainda estava revisando seu processo de contabilização de receitas e custos.
A falência da Wind Power foi decretada pelo juiz Rafael José de Menezes, da Comarca do Cabo de Santo Agostinho, na semana passada. O juiz disse que a empresa não pleiteou a sua recuperação judicial no prazo de contestação. Segundo Menezes, a Wind Power apenas alegou a improcedência da ação sob o argumento de que não estaria em estado de insolvência, o que não foi comprovado nos autos.
“A Wind Power Energia tinha ciência do débito e, sem motivo justificável, não efetuou o seu pagamento, o que contribui de forma decisiva para a presunção de sua insolvência”, afirmou o juiz.
A Wind Power não atendeu ao pedido de entrevista. O escritório que representa o grupo Libra, o Dias Carneiro Advogados, também não se pronunciou.
O relatório dos auditores da Impsa traz ainda uma ênfase: “A empresa vem investindo recursos significativos para adquirir propriedades, instalações e equipamentos, ativos intangíveis e investimentos em subsidiárias no Brasil. A recuperação destes montantes depende do êxito de operações futuras e de ações com o objetivo de melhorar a estrutura financeira e de capital de giro da empresa.”
A Impsa obteve empréstimo de US$ 150 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em 2011. Dois anos antes, o BNDES aprovou financiamento de R$ 837,8 milhões à companhia para a construção de parques eólicos no Brasil.
Em 2013, a Impsa teve receita de US$ 690 milhões, queda de 27% sobre o ano anterior. A empresa teve perda de US$ 4,6 milhões, revertendo lucro de US$ 1,8 milhões.
Em dezembro, a companhia argentina tinha US$ 37 milhões em caixa e US$ 289 milhões em compromissos financeiros com vencimento no curto prazo. Apesar de haver sinais de problemas de liquidez, o retrato financeiro da Impsa não era de insolvência. A soma de todos os ativos da empresa menos o passivos resultava em um patrimônio de US$ 173 milhões.