O grupo Voges, fabricante de fundidos e motores elétricos em recuperação judicial desde julho de 2013, obteve uma carência de 12 meses para o pagamento das dívidas de aproximadamente R$ 360 milhões com fornecedores, funcionários, bancos e detentores de títulos. Durante este prazo, aprovado na última assembleia de credores, dia 16 de setembro, a empresa com sede em Caxias do Sul (RS) vai reestruturar as operações, inclusive com a venda da subsidiária Voges Metalúrgica, que produz os motores. As condições de liquidação dos débitos serão negociadas depois disto.
O trabalho será conduzido pela Ivix, que reestruturou a LBR, do setor de lácteos, e foi contratada há pouco mais de um mês. Conforme o sócio da consultoria, Marco Aurélio Barreto, o contrato não inclui a renegociação do passivo tributário de R$ 500 milhões, mas a empresa já aderiu ao “Refis da Copa” (que permite o aproveitamento integral de prejuízos fiscais e bases negativas de contribuição social para compensação de tributos) com a finalidade de acertar as contas com o Fisco.
A primeira providência da Ivix foi modificar a proposta original da venda da Metalúrgica. A ideia inicial era oferecer a subsidiária pelo valor simbólico de R$ 1 mais a assunção das dívidas, mas agora o grupo decidiu receber propostas sem preços e condições predefinidos e tem a expectativa de submetê-las a uma nova assembleia de credores em fevereiro de 2015. A fundição Metalcorte não será vendida.
Segundo Barreto, a consultoria “mapeou” 23 indústrias e fundos nacionais e estrangeiros que poderiam participar do leilão. Alguns dos potenciais interessados já fizeram contato com a empresa e outros serão procurados. Nesta última categoria está a WEG, maior fabricante brasileiro de motores elétricos, que tem uma política de aquisições agressiva dentro e fora do país. Procurada pelo Valor, a multinacional com sede em Jaraguá do Sul (SC) preferiu não se manifestar sobre o assunto.
Antes de vender a Metalúrgica, a Ivix pretende valorizar o ativo com cortes de custos, ganhos de eficiência e aumento da produção, das vendas e das margens. “Precisamos manter a empresa rodando”, afirma Barreto. Sem acesso a crédito depois da recuperação judicial, o grupo faturou apenas R$ 15 milhões e fechou com lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) negativo em setembro, mas o plano do executivo é inverter a situação já no início do ano que vem.
O primeiro passo será a contratação de um financiamento extraconcursal conhecido como DIP, ou “debtor-in-possession”, para capital de giro no valor total de R$ 20 milhões, aprovado pela última assembleia de credores. O modelo garante prioridade de pagamento ao credor em caso de falência da empresa e a consultoria já começou a fazer consultas a instituições financeiras para fechar a operação.
O objetivo é captar os empréstimos em duas partes de R$ 10 milhões, a primeira imediatamente e a segunda em fevereiro do ano com vem. Com este dinheiro em caixa, o grupo poderá alcançar uma receita de R$ 30 milhões por mês no início de 2015 e retornar a uma margem Ebitda entre 10% e 15% positivos graças a ganhos de escala e à possibilidade de negociar descontos de até 10% nos preços das matérias-primas a partir de um planejamento mais longo de compras, acredita Barreto.
O plano de reestruturação inclui ainda o foco nas vendas via distribuidores, que proporcionam melhores margens. Não está prevista redução do quadro de 1,2 mil funcionários do grupo, sendo 75% na Metalúrgica. A subsidiária tem capacidade para fabricar 100 mil motores por mês e, segundo Barreto, potencial para faturar R$ 400 milhões por ano, inclusive com exportações. Já a Metalcorte pode produzir 1,3 mil toneladas por mês de fundidos para o setor automotivo e de máquinas agrícolas e chegar a uma receita anual de R$ 200 milhões.