Por Anna Nicolaou
O que fundamenta a decisão da Toshiba de pedir recuperação judicial para sua divisão de engenharia nuclear nos Estados Unidos é a ideia de que as perdas financeiras impostas à matriz podem ser contidas. No entanto, embora a falência possa reduzir os compromissos financeiros do grupo com as usinas em construção, onde os custos dispararam e estouraram os orçamentos, este é apenas o começo do que tende a ser uma longa discussão sobre o futuro dos projetos.
A certeza ansiada pela Toshiba ainda parece distante. Na noite de ontem, em Tóquio, Satoshi Tsunakawa, o presidente da Toshiba, disse que o conglomerado tinha se livrado de todas as ameaças referentes à Westinghouse e que há pouco perigo de a empresa ter de arcar com quaisquer prejuízos futuros dos projetos dos EUA. “O risco gerado pela nossa divisão nuclear externa foi eliminado”, declarou.
Essa opinião não é compartilhada por muitos dos acionistas e bancos credores da Toshiba. Há pouca clareza sobre a maneira pela qual as conversações entre a Westinghouse e os donos dos projetos nucleares nos EUA vão terminar durante a reestruturação.
As joint-ventures que controlam as usinas, encabeçadas pela Southern Company, em Vogtle, e pela Scana, em VC Summer, disseram estar preparadas para uma falência da Westinghouse e revelaram que estudam alternativas para garantir a continuidade das obras.
No processo falimentar, a Southern e a Scana afirmam que, durante um “período temporário de avaliação”, os proprietários da unidade ajudarão a cobrir os custos de continuar a construção, pagando subcontratadas e fornecedores.
Mas, como disse a Westinghouse no pedido judicial, no distrito sul de New York, as discussões em torno de “uma solução de longo prazo para as questões referentes à construção dos projetos nos EUA” continuam.
Grupo japonês disse que prejuízo líquido do ano fiscal de 2016 poderá atingir até 1 trilhão de ienes (US$ 9 bilhões)
Em declaração ao tribunal, a consultoria Alix-Partners explicou o ponto de vista da Westinghouse. A construção em Vogtle e em VC Summer demorou devido a “dificuldades imprevistas”, escreveu Lisa Donahue, da área de recuperação e reestruturação da Alix.
O grupo ficou, portanto, exposto a arcar com bilhões de dólares, em estouros de orçamento, caso concluísse os projetos, ou em penalidades e passivos, caso os abandonasse. A Westinghouse não tinha condições financeiras de assumir nenhuma dessas duas possibilidades, acrescentou Lisa.
No mês passado os estouros de orçamento levaram a Toshiba a advertir sobre uma baixa contábil de US$ 6,3 bilhões em sua divisão nuclear americana.
Ontem a Toshiba disse que seu prejuízo líquido do ano fiscal de 2016 poderá atingir até 1 trilhão de ienes (US$ 9 bilhões) – o maior já registrado por uma indústria japonesa até agora. O resultado derivará, em parte, de garantias sobre as obrigações financeiras contingenciadas da Westinghouse.
Esses compromissos financeiros, que eram de 650 bilhões de ienes no fim de fevereiro, se referem aos potenciais futuros estouros de orçamento nos dois projetos.
Lisa disse ao tribunal que o plano era isolar os projetos do restante da empresa, que está financeiramente saudável, e “estudar a continuidade da viabilidade desses projetos de maneira neutra em termos de custos e neutra em termos de caixa” para a Westinghouse. “A resolução final sobre o envolvimento dos devedores nesses projetos continua incerta.”
A Southern e a Scana deram indícios, no entanto, de que não deixarão a Westinghouse e a Toshiba simplesmente se retirarem. Os dois grupos disseram que existem garantias de que novos estouros de orçamento dos projetos não podem ser repassados aos clientes.
Analistas do Morgan Stanley estimaram em US$ 5,2 bilhões os estouros de custos adicionais com construção e com despesas ligadas ao atraso para a Scana e em US$ 3,3 bilhões para a Southern, referentes aos projetos.
De acordo com pessoas próximas aos principais bancos credores da Toshiba, a falta de clareza do pedido de recuperação judicial levantou temores de que o conglomerado japonês não estaria blindado contra novos problemas da Westinghouse.
“Há uma forte sensação entre os credores que esse não será o fim da questão, porque eles [Toshiba] estão começando a entender o quanto estão indistintas algumas das arestas da divisão nuclear americana”, disse um analista que preferiu não ter seu nome divulgado. “Será que eles acham que há um enorme buraco negro que ainda desconhecem? Não. Mas estão, com certeza, nervosos com o fato de, nem agora, terem o quadro completo.”
Se o plano de separar as operações financeiramente saudáveis da Westinghouse dos projetos americanos ruins for bem-sucedido, algumas partes da empresa poderão ser atraentes para os compradores. (Tradução de Rachel Warszawski)