Peixoto de Castro deve encerrar recuperação judicial até setembro

Peixoto de Castro deve encerrar recuperação judicial até setembro

Por Francisco Góes
O Grupo Peixoto de Castro (GPC), controlado pela família carioca homônima, completa quatro anos em recuperação judicial com a perspectiva da administração de, finalmente, encerrar o processo até setembro. Se a previsão se confirmar, o grupo entrará em nova etapa tendo pela frente compromissos assumidos com os credores para pagamento de uma dívida reestruturada da ordem de R$ 140 milhões. Em 2013, essa dívida somava R$ 280 milhões.

Mas ao mesmo tempo em que avança no complexo processo de recuperação judicial o GPC está envolvido em briga societária entre os controladores, representados pela família Peixoto de Castro, e um minoritário relevante, a Sky Investments, veículo de investimentos do empresário Nelson Tanure. Investidores se perguntam se o contencioso pode afetar a conclusão da própria recuperação judicial do grupo uma vez que a disputa já trouxe transtornos para o processo. A administração do GPC e a Sky negam que a briga tenha influência no desfecho da recuperação judicial, embora haja efeitos para o dia a dia da companhia.

A Sky considera que o GPC, que tem capital aberto em bolsa, é mal administrado. E critica os novos termos do plano de recuperação judicial da companhia, aprovado em outubro de 2016. Há poucos dias, a Sky tentou destituir os administradores, mas não conseguiu. “A eficiência da administração do grupo pode ser medida pelo fato de os credores terem aceito o plano”, disse Emilio Salgado Filho, vice-presidente corporativo e de relações com investidores da holding GPC Participações.

Integrantes da família Peixoto de Castro que participam de um acordo de acionistas detêm 38% do capital votante do GPC. A Sky tem participação acionária semelhante, embora não consiga maioria para aprovar temas de seu interesse no conselho de administração da holding porque há investidores que votam com os controladores.

O GPC é uma das empresas em recuperação judical. As outras são a GPC Química e a Apolo Tubos. O GPC foi criado em 1997 como companhia de capital aberto e passou a reunir os ativos industriais da família Peixoto de Castro antes detidos pela Refinaria de Manguinhos. Em 1997, os Peixoto de Castro venderam 50% de Manguinhos aos espanhóis da então YPF-Repsol. Manguinhos funcionava, além de refinaria, como holding que reunia os ativos industriais da família. O restante da participação em Manguinhos foi vendida em um segundo momento. A GPCPar concentrou-se na produção de tubos e em petroquímica.

As dificuldades vividas pelo grupo tiveram sua origem em investimentos feitos na área química até 2008, quando estourou a crise financeira mundial. O GPC ficou com estrutura de capital inadequada e houve deterioração das condições operacionais das empresas controladas, levando o grupo a pedir recuperação judicial.

Em 2013, o GPC aprovou o plano de recuperação original, mas enfrentou dificuldades para implementá-lo. O plano se apoiava na venda de terreno na Avenida Brasil, principal via de acesso ao Rio. O terreno não foi vendido. No fim de maio, haverá leilão para tentar vender parte dessa área em lotes e, se tiver sucesso, o dinheiro irá para pagar o IFC, do Banco Mundial, que tem garantias reais. Se houver sobras, o dinheiro pode ajudar a recompor o caixa do GPC.

Independentemente da venda do terreno, os novos termos do plano de recuperação determinam que a dívida será paga com as receitas geradas pelos negócios do grupo. O principal deles está na área química. Além da GPC Química, em recuperação judicial, o grupo tem ativos no Polo de Camaçari, na Bahia, que ficaram de fora do processo. Esses ativos incluem a participação na holding Metanor, em sociedade com a Petrobras, e a Copenor, que atua na importação de metanol, matéria-prima para a indústria química.

Na área siderúrgica, o grupo é dono da Apolo Tubos, que também faz parte da recuperação judicial. E tem ainda participação de 50% na Apolo Tubulars, de Lorena (SP), sociedade com a americana US Steel. O negócio químico tem tido um desempenho melhor do que a área siderúrgica do grupo.

Em 2016, o GPC teve receita líquida de R$ 437,9 milhões e lucro de R$ 52,6 milhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 45,4 milhões. Em 2010, o Ebitda do GPC chegou a R$ 59 milhões e a receita a R$ 555 milhões, mas o grupo terminou o exercício com prejuízo de R$ 19,4 milhões.

No novo plano, aprovado por 73,68% dos créditos presentes na assembleia geral de credores, a dívida foi repactuada para pagamento entre 10 e 30 anos em sua maior parte. A previsão de encerrar a recuperação em setembro se apoia em medidas que o GPC tem de implementar em dez meses a contar da assembleia de credores de outubro de 2016, incluindo a conversão de parte da dívida em ações preferenciais e a criação de sociedades específicas para a venda do terreno no Rio.

Os credores com garantias reais tiveram deságio de 60% sobre o crédito original e os 40% restantes serão pagos em três anos, em parcelas mensais, com correção pelo CDI. Para os credores que não tinham garantias reais, a empresa ofereceu opções como o pagamento em 30 anos do valor nominal corrigido pelo INPC e a possibilidade de converter a dívida em ações preferenciais da companhia.

Alexandre Cardoso, integrante do conselho fiscal do GPC indicado pela Sky, disse que o que preocupa é que o aditamento previu desembolsos de caixa imediatos. “A companhia vem pagando cerca de R$ 1,5 milhão por mês aos credores, mas entendemos que em algum momento a empresa não terá fluxo de caixa para fazer pagamento aos credores”, afirmou. Cardoso também disse que o GPC não está conseguindo arcar com o pagamento de impostos correntes e reclamou de despesas “elevadas” com os executivos do grupo. Salgado, o vice-presidente da GPC, disse que o plano aditado foi aprovado dentro do limite do que foi considerado “aceitável” pelos credores e afirmou que na questão fiscal há um planejamento tributário que busca aproveitar o que a legislação permite.

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