Por Chiara Quintão
A Viver Incorporadora tem focado as atenções na aprovação de seus planos de recuperação judicial, nas conversas com credores das sociedades de propósito específico (SPEs) que ficam fora do ajuizamento, e na preparação de sua retomada. Em sua primeira entrevista desde que a Viver pediu recuperação judicial em setembro de 2016, o presidente da companhia, Eduardo Canonico, diz estar otimista nas negociações com credores. A empresa tem passivos de R$ 1,2 bilhão, incluindo dívidas extra-concursais, ou seja, não sujeitas à recuperação.
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Canonico, presidente: conversão de ações da companhia para pagamento de dívidas chegará a pelo menos R$ 880 milhões
No começo do mês passado, a Viver apresentou um plano principal de recuperação, o da holding, e 16 planos individuais para SPEs. Está previsto que cerca de 99% da Viver será entregue aos credores para pagamento de dívidas, por meio de emissão de ações. Canonico estima que a conversão de ações da companhia para pagamento de dívidas chegará a pelo menos R$880 milhões.
Os passivos dos 17 planos somam R$ 860 milhões. Recentemente, decisão judicial permitiu que a companhia tenha mais sete SPEs em sua recuperação. A decisão, ainda não notificada, formalmente, à Viver, vai significar a entrada de mais R$ 20 milhões em dívidas na recuperação.
Em nove planos, não houve objeção dos credores, o que significa que não será preciso votar a questão em assembleia. “Isso deixa grande complexidade da recuperação para trás”, diz Canonico. Hoje, a Viver vai convocar assembleias das SPEs que não aprovaram planos. Os credores da holding estão nesse caso. A primeira convocação de quatro SPEs está prevista para 22 de novembro e de outras quatro, para 24 de novembro. A segunda convocação será, respectivamente, em 29 e 30 de novembro.
A emissão de ações para pagamento de dívidas depende da aprovação do plano da holding e ocorrerá em tranches. Se alguma SPE não aceitar ações como pagamento, precisará ser liquidada. “Não imagino que os credores vão rejeitar o recebimento em ações”, diz o advogado Eduardo Takemi Kataoka, do escritório Galdino Coelho Mendes, que representa a Viver na recuperação judicial. O Valor apurou que o aumento de capital não deve ocorrer ainda neste ano.
A emissão de ações do que excede os R$ 880 milhões dependerá da adesão dos credores dos débitos não incluídos na recuperação. Os que não quiserem receber ações poderão indicar um comissário que ficará responsável por vender os papéis da Viver.
A companhia tem expectativa de resolver o mais rapidamente possível o rumo dos três projetos não concluídos
Os maiores credores da companhia são Bradesco, Caixa Econômica Federal, Polo Capital, Credit Suisse, Santander, Votorantim e Paladin – este também o principal acionista. Canonico conta que as conversas com os bancos credores de SPEs com patrimônio de afetação “estão amistosas” e que espera um acordo ainda neste ano.
O primeiro modelo de recuperação proposto pela Viver, em setembro de 2016, consolidava todas as suas 64 SPEs, incluindo as 16 com patrimônio de afetação. O formato foi muito criticado e, posteriormente, não aceito judicialmente. Bancos e o próprio setor de incorporação avaliaram que a consolidação substancial não respeitava a necessidade de segregação de ativos e passivos prevista nas regras do patrimônio de afetação.
“A consolidação substancial era a melhor alternativa para todas as partes e para a continuidade operacional da companhia”, diz Canonico, acrescentando que mais de 70% das dívidas da Viver estavam concentradas na holding.
Segundo o executivo, as discussões relacionadas à inclusão do patrimônio afetado na recuperação judicial “travaram a venda de imóveis” da Viver das SPEs com afetação. A maior dificuldade para as vendas resultou de limitações dos bancos ao financiamento de unidades com patrimônio afetado. Kataoka acrescenta que as instituições exigiram que a totalidade dos valores das vendas fosse direcionada ao pagamento de dívidas, o que dificultou a entrada de recursos para bancar as despesas gerais e administrativas.
A Viver tem expectativa de resolver o mais rapidamente possível o rumo dos três projetos não concluídos, segundo o presidente. Em um deles, o mais provável é que o projeto seja entregue para a condução dos credores, sem a continuidade da participação da companhia. Em outro, as sinalizações são de que a incorporadora irá finalizá-lo. No terceiro, o caminho a ser tomado ainda está em discussão.
Na retomada prevista, a Viver pretende focar sua atuação no programa Minha Casa, Minha Vida, principalmente no Estado de São Paulo. A companhia tem terrenos também nas regiões Norte e Sul do país. Atualmente, a empresa tem 50 funcionários, incluindo holding e filiais, número que já chegou a 440.
Fonte: Valor econômico