Por Chiara Quintão
A Viver Incorporadora anunciou reestruturação societária, na qual um fundo da Jive Asset Gestão de Recursos passa a ser seu principal acionista, posição ocupada pelo fundo Paladin Prime Residential Investors desde 2009. A mudança faz parte de reestruturação em que a atividade principal da empresa passa a ser serviços de gestão de ativos imobiliários, por meio da unidade de negócios ServRE, em vez da incorporação de imóveis. “Não se trata de mais uma etapa da recuperação judicial da Viver, mas de uma retomada da companhia”, diz o presidente, Eduardo Canonico.
A Viver foi a primeira incorporadora de capital aberto a pedir recuperação judicial, em setembro de 2016. Após várias modificações do plano, houve aprovação em novembro de 2017.
O Jive – que tem foco em ativos problemáticos, os chamados “distresset assets” – comprou dívida de R$ 420,4 milhões que a Viver tinha com o Bradesco. Em troca, receberá R$ 297 milhões em ações da companhia a serem subscritas na segunda tranche do aumento de capital em curso, e o restante em ativos e direitos creditórios. Ao final da operação, a Jive terá 38% de participação, incluindo o valor subscrito e parcela a ser adquirida do Kirton Bank (antigo HSBC Brasil, adquirido pelo Bradesco), estimada em 4,2%, após a diluição da segunda tranche da capitalização.
Paladin Realty Partners ficará com cerca de 20%, e Polo Capital, com 11%. No site da Viver, a composição acionária antes da operação com o Jive indicava que o fundo detido pela Paladin tinha 30,6%, Polo, 19,4%, e Kirton, 6,7%.
Apesar da queda de 6,6% das ações da empresa na sexta-feira, para R$ 0,28, na semana os papéis da Viver na B3 acumularam valorização de 40%. Em outubro, o aumento foi 64,71%.
A conclusão da operação com o Jive está prevista para meados de novembro, com o fechamento da segunda etapa do aumento de capital da companhia. A primeira tranche da capitalização foi de R$ 590 milhões. Segundo Canonico, o pagamento de 99,3% do quadro geral de credores foi quitado. Haverá ainda uma terceira tranche do aumento de capital.
A operação anunciada terá impacto positivo superior a R$ 200 milhões no patrimônio líquido da companhia, que, depois de mais de três anos negativo, voltará a ser positivo. No fechamento do primeiro semestre, a Viver tinha patrimônio líquido negativo em R$ 104,9 milhões.
Os passivos da Viver chegaram a ter valor de R$ 1,2 bilhão, dos quais metade foi convertida em ações, como parte da execução do plano de recuperação judicial. Do restante, R$ 480,4 milhões se referem a dívidas de empreendimentos com patrimônio de afetação – R$ 420,4 milhões com o Bradesco (que serão quitados com a operação com o Jive), R$ 60 milhões com o Santander e R$ 20 milhões com o Banco Pan -, além de cerca de R$ 100 milhões de debênture com a Caixa Econômica Federal.
A Viver, que divulgou lançamentos de R$ 1,52 bilhão em 2007, ano em que abriu capital, apresentou um projeto novo ao mercado, pela última vez, no início de 2013, com Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 25,7 milhões.
A unidade da Viver de serviços em gestão de ativos imobiliários, vai atuar em operações como aprovação de crédito, vistoria, organização de documentos para o repasse de recebíveis de clientes para bancos, registro de imóveis e assistência técnica. Sem informar que fatia de mercado a ServRE pretende abocanhar, o presidente da Viver estima que bancos e fundos detenham cerca de 100 mil imóveis no país. “Temos estrutura integrada para a gestão desses imóveis”, afirma Canonico.
Questionado se potenciais clientes se sentirão seguros em terceirizar a gestão de ativos imobiliários para uma empresa em recuperação judicial, Canonico afirma que o modelo oferecido é de alinhamento com os clientes e recebimento atrelado à realização efetiva dos serviços. Rafael Carlos, sócio da Alvarez & Marsal, consultoria contratada para dar suporte à reestruturação da Viver, acrescenta que o mercado está “bastante maduro para entender a recuperação judicial como ferramenta para auxiliar empresas no seu balanço”.
Após o pagamento previsto das dívidas da companhia, o banco de terrenos da Viver será reduzido para R$ 600 milhões. No fim de junho, o VGV potencial dos terrenos era de R$ 1,57 bilhão.
Fonte: Valor Econômico.