Uma das mais tradicionais cooperativas agropecuárias do Rio Grande do Sul, a Cotrijuí, fundada em 1957, entrou em regime de liquidação extrajudicial para suspender a execução de mais de R$ 1,2 bilhão em dívidas. A medida foi aprovada em assembleia dos associados neste fim de semana e garante uma moratória de até dois anos para a elaboração de um programa de pagamento aos credores, explicou ao Valor o presidente da Cotrijuí, Vanderlei Fragoso, também nomeado liquidante da operação.
Conforme Fragoso, a liquidação extrajudicial (equivalente no setor cooperativo à recuperação judicial) é o terceiro passo de um plano de reestruturação que começou em fevereiro de 2013. O primeiro foi a redução de R$ 40 milhões anuais em custos operacionais e a regularização dos pagamentos correntes a fornecedores e associados e, o segundo, a adoção do regime de armazém geral, que garantiu imunidade aos estoques de grãos dos produtores depositados na cooperativa.
A medida, aprovada no fim de semana, também será usada para tentar suspender os leilões judiciais de uma unidade de recebimento de grãos no município de Chiapetta e de uma indústria de beneficiamento de aveia em Ijuí, marcados para esta semana e para daqui a 15 dias, respectivamente. Os leilões fazem parte da execução de uma dívida de R$ 65 milhões, em valores atuais, referente a um empréstimo que deveria ter sido pago até 1997 ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Fragoso explicou que o passivo da Cotrijuí se acumulou devido a problemas de gestão nos últimos anos e que o valor inclui dívidas fiscais, trabalhistas, previdenciárias, bancárias, com associados e fornecedores. Nos últimos 12 meses, a entidade conseguiu liquidar compromissos de R$ 58 milhões, mesmo com a queda do faturamento da faixa de R$ 1 bilhão, em 2012, para cerca de R$ 500 milhões estimados neste ano, cifra semelhante à de 2013, conforme o presidente.
O plano de pagamento das dívidas vai incluir a venda de ativos não ligados à atividade principal da cooperativa, como uma fazenda de aproximadamente mil hectares localizada em Mato Grosso, que foi adquirida em 1994 e está ocupada indevidamente, acrescentou Fragoso. O pedido de desocupação da área já foi apresentado à Justiça e a propriedade vale cerca de R$ 80 milhões, de acordo com o executivo. Segundo ele, também serão vendidos imóveis urbanos, que podem render “valores consideráveis”.
A Cotrijuí opera em 42 municípios do Rio Grande do Sul e tem capacidade para armazenar 1 milhão de toneladas de grãos. Tem ainda um frigorífico de suínos, uma fábrica de rações, unidades de beneficiamento de cereais e uma rede de supermercados e outra de combustíveis. O número de filiados chega a 19 mil, mas o contingente de associados ativos está na faixa dos 5 mil, informou Fragoso.