O plano de recuperação judicial do Grupo Camera, cujas dívidas superam os R$ 798 milhões, foi entregue à Vara de Falências de Santa Rosa (região Noroeste do Estado) no dia 23 de dezembro, dois dias antes do prazo estabelecido em outubro, quando a Justiça aprovou a realização do procedimento de recuperação.
De acordo com o advogado da empresa, Luís Gustavo Schmitz, a proposta concretiza a previsão (adiantada pelo Jornal do Comércio em outubro) de venda de ativos e de transferência, total ou parcial, do controle acionário do grupo. A tendência mais forte é de transferência parcial do controle.
“Temos três grupos interessados em apreciar tanto a aquisição da empresa como um todo, obtendo 100% do controle, como também de parte do negócio”, adianta. Porém, como em 2010 a Camera já havia vendido 17% do controle do grupo para a CRP Companhia de Participações, que deve se manter no negócio, é mais provável que a negociação de controle fique restrita aos 83% restantes.
“É importante deixar claro que, mesmo que essa negociação não se viabilize ou leve mais tempo, a empresa organizou um plano de recuperação viável para que ela mesma possa conduzir”, frisa Schmitz. Nesse sentido, é a venda de ativos que deve ganhar evidência.
Entre os bens disponibilizados pela Camera está o parque industrial de Estrela. “É um ativo importante, valorizado e bem localizado, com acesso rodoviário, ferroviário e fluvial. A logística é uma das melhores para transporte de grão”, detalha.
O grupo também avalia como serão os resultados dos leilões de biodiesel do primeiro semestre deste ano para definir se mantém a unidade industrial de Ijuí, onde estão localizadas as usinas de biodiesel. Está prevista, também, a venda de pequenas unidades de armazenamento espalhadas pelo Estado, que, segundo Schmitz, também deixaram de ser “estratégicas” para a empresa.
A venda de todos esses ativos deve reverter um ganho de 30% a 40% do total da dívida, estima Schmitz. Em valores reais, o saldo deve ficar entre R$ 239,4 milhões e R$ 319,2 milhões, volume que deve trazer fôlego às operações do grupo, principalmente, com a chegada da safra de soja, em março. “A projeção é de uma produção de soja em larga escala no Rio Grande do Sul pelo fator climático e pela área de plantio. Acreditamos que teremos uma das maiores safras dos últimos anos”, destaca o advogado.
“A empresa está se preparando para a retomada de forma orgânica, com sua força e capacidade instalada, que é invejável. É a companhia melhor aparelhada hoje no Estado.” O plano de recuperação judicial estabelece, ainda, valores e prazos para o pagamento das dívidas, sendo que a prioridade inicial é o pagamento de dívidas trabalhistas (que compõem o menor percentual da dívida, cerca de 0,1%). Para os demais credores, a Camera pretende firmar prazos para fechar acordos. “Estamos apresentando uma condição diferenciada de pagamento, tanto quanto a prazo quanto ao desconto, que é atraente para os credores que queiram aderir e abrir mão das execuções judiciais”, sinaliza.
A Camera já começou a fazer rodadas de apresentação do plano de recuperação judicial a credores estratégicos e tem reuniões agendadas para as próximas semanas. Judicialmente, no entanto, o que conta é a concordância do grupo de credores, que devem constituir uma assembleia para avaliar a proposta.
No cenário mais otimista, sendo cumpridos pontualmente todos os prazos, a definição final deve sair no final do mês de abril. “É raro acontecer dentro do prazo”, afirma Schmitz, estimando a concretização do processo de avaliação do plano de recuperação entre abril e maio.