Empresa pretende fechar todas lojas que não forem rentáveis, e pode abrir lojas, mas que o saldo líquido será negativo em 12 a 15 meses, porém, menor do que em 2023
A Americanas conseguiu iniciar um movimento para estabilizar seu ciclo de caixa, de maneira que a empresa possa se financiar com a indústria e, dessa forma, gerar caixa para sustentar pagamentos do plano de recuperação judicial.
Em entrevista após a teleconferência de resultados, Camille Faria, chefe da área financeira do grupo, disse que esse processo avançou de forma melhor que a projetada, porque aumentou a proporção de fornecedores que entraram no plano de recuperação da empresa (de 60% para 80% da base), e que passaram a fornecer mercadorias dentro de condições normais de mercado.
Dessa forma, a empresa vai normalizando estoques e os pagamentos aos fornecedores em prazos de até 60 dias. Cerca de 85% dos fornecedores estão com prazos de pagamento para a empresa em torno de 60 dias.
“Dessa forma, a empresa vem se financiando por meio da indústria, e gerando caixa para pagamentos que se comprometeu”, disse ela. De janeiro a junho, essa geração foi de cerca de R$ 1,7 bilhão.
Além disso, o presidente do grupo, Leonardo Coelho, disse ao Valor que a empresa vai estruturar um modelo de venda on-line diferentes dos dois centrais existentes no mundo. Esses dois principais envolvem a venda pelos grandes marketplaces (Amazon, Mercado Livre) e aquelas plataformas on-line de nicho.
“Nós estudamos vários formatos e vamos ir para um modelo em que eu agrego valor ao ‘seller’ [lojista], disponibilizando a ele dados de suas vendas e dando a ele acesso a tráfego de qualidade e à logística”, disse.
Essa questão é importante, porque, como a operação digital da Americanas reduziu-se mais neste ano, mas ela mantém negócio físico importante, a rede precisa ter um braço digital ainda competitivo, para não perder lojistas que vendem na plataforma — que é o foco de sua operação on-line daqui para frente. Isso envolve oferecer aos lojistas diferenciais da Americanas que o mercado não possa oferecer, diz Coelho.
A receita líquida da Americanas caiu 2,6% de janeiro a junho, com queda ou estabilidade em praticamente todos os negócios, menos lojas físicas — e esse recuo inclui operações que ela precisa vender para fazer caixa.
Novas projeções
A operação da Hortifruti Natural da Terra ficou estável. A Uni.co (Puket, Imaginarium) perdeu 13% de vendas, e ambos os negócios estão no plano de recuperação judicial para venda em até dois anos. A Ame Digital, carteira de pagamentos, encolheu 31%.
A empresa ainda disse que projeções novas sobre desempenho futuro podem voltar a ser apresentadas eventualmente — a perspectiva de divulgação de estimativas foi congelada até uma decisão futura sobre o tema, para que a empresa possa analisar os números já registrados nos últimos trimestres, e ajuste as projeções, se necessário.
Encerramento de lojas
Em teleconferência, a Americanas ainda disse que vai fechar todas lojas que não forem rentáveis, e pode abrir lojas, mas que o saldo líquido será negativo em 12 a 15 meses, porém, menor do que em 2023. “Tivemos um concorrente que passou de 1,4 mil lojas, em 2022, para 1,280 mil, sem recuperação judicial”, lembrou Coelho.
A Americanas vai investir, basicamente, em melhorar apresentação de loja e disse que não vai aumentar despesa por causa de crescimento em investimento, porque o plano é retomar geração de caixa e manter despesas sob controle.
Fonte: Valor Econômico