Aluguel atrasado e venda abaixo do potencial motivaram a ação, que soma R$ 2,98 milhões
O shopping center Iguatemi São Paulo, na capital paulista, entrou com uma ação de despejo contra a Americanas por causa de atraso no pagamento de aluguel de uma loja da rede no empreendimento, como antecipou ontem (29) o site do Valor. A soma total da ação, que envolve a dívida, é de R$ 2,98 milhões. Muito cobiçada há anos pela localização privilegiada, a unidade permanece em operação.
No processo, o Iguatemi ainda alega fracos resultados e falta de produtos nas gôndolas para defender seu pedido de despejo da rede varejista da área.
Trata-se de um dos contratos de locação mais antigos no Iguatemi, datado de 1981 – o shopping foi aberto em 1966 – e se o processo evoluir é visto pelo mercado como uma vitória para o shopping, que há anos tem o desejo de retomar o ponto da Lojas Americanas, sem sucesso, segundo fonte a par do tema.
O Valor apurou que não haveria dívidas da varejista com o Iguatemi fora do período da recuperação judicial da Americanas. O que existiria é uma dívida anterior ao pedido de recuperação, e que entrou no processo no ano passado, e este seria o foco da ação.
Ocorre que este pagamento tem que seguir os trâmites do plano de recuperação. Por isso, a divergência se manteve e a ação continua em andamento.
Além disso, há questões relacionadas com resultado da rede no ponto, que estaria abaixo do potencial do local. Para um advogado da área, é usual incluir cláusulas de performance em contratos de locação, especialmente em “lojas âncoras” como a da Americanas, que são varejistas que atraem mais tráfego. Mas seria preciso comprovar essa tese juridicamente.
Segundo o jornal “Folha de S. Paulo”, o valor do aluguel seria de R$ 248 mil mensais, mas a varejista ofereceu R$ 180 mil. E nos próximos quatro anos, o potencial de locação, com a saída da rede, seria de R$ 24 milhões no total, na visão do Iguatemi.
O ponto da Americanas é um dos melhores metros quadrados do empreendimento, em termos de potencial de venda e localização. “Aquela área da Americanas vale mais que ouro para eles, e o Iguatemi sempre quis de volta”, diz uma pessoa a par do assunto.
A unidade fica na entrada principal do empreendimento, espaço nobre de um dos shoppings mais “premium” do país.
Há informações no segmento de que há fila de espera para aquela área, caso venha a ser desocupada. Outro espaço cobiçado é a loja da C&A, também na entrada principal, ambas no piso próximo à Faria Lima.
Marcas internacionais, inclusive ainda não presentes no Brasil, aceitariam fechar contratos de locação a preços bem mais altos do que aquele que a Americanas paga, segundo interlocutores do Iguatemi já teriam comentado com lojistas do local.
“Eles [Iguatemi] estão com demanda acima da capacidade. Inclusive, até por isso, vieram com um plano de expansão”, diz uma segunda fonte. A obra de ampliação do shopping está prevista para ser iniciada no primeiro trimestre de 2025.
“A unidade segue operando normalmente e já apresentou defesa” — Americanas
No passado, o Iguatemi chegou a avaliar uma negociação para mudança de ponto da Americanas dentro do shopping. É possível abrir acordo para isso junto ao condômino, mas o varejista não é obrigado a mudar.
Agora, com o suposto atraso no pagamento, e vendas abaixo do potencial, o Iguatemi pode ir à Justiça solicitar o ponto, algo só possível se há quebra de alguma cláusula do acordo.
Pelos dados do balanço do grupo relativos ao segundo trimestre, foram registrados R$ 87 milhões de aluguel no Iguatemi São Paulo, o maior valor entre todos os shoppings da companhia, e dobro do montante do JK Iguatemi, instalado também na capital.
A ação de despejo começou a tramitar no início de julho, na 33ª Vara Cível de São Paulo, e desde o dia 5 de agosto está conclusa para despacho do juiz do caso.
Procurado, o grupo disse que não comenta processo em andamento. A Americanas informa, em nota, que segue pagando seus fornecedores rigorosamente em dia e sem atrasos: “A companhia informa que a unidade localizada no shopping em questão segue operando normalmente e que já apresentou defesa contra a ação.”
Paralelamente a esse processo, há ações da Americanas contra shoppings por conta do tema de renovação de contrato de aluguel. As conversas envolvem os shoppings West Plaza e Frei Caneca, ambos em São Paulo, e o Vale Sul, em São José dos Campos (SP).
Renovações são tema recorrente entre empreendimentos e lojistas, mas quando a questão se alonga além do prazo normal de contrato, é possível levá-la para a Justiça.
As negociações podem envolver desde valores de locação até questões contratuais mais gerais. Por exemplo, no caso do West Plaza, apurou o Valor, a renovação está sendo tratada num momento em que a área onde a loja está passará por reformas e afetará o tráfego local.
Fonte: Valor Econômico